quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

SEBASTIÃO MAGALHÃES LIMA. UMA REFERÊNCIA




[Magalhães Lima, Sebastião] "Muitas vezes me sinto estranho na actual sociedade, tão diversa da minha. Ante o impudor e o cinismo que lavram, sinto-me feliz por ter conservado as qualidades de honradez e de nobreza moral que herdei de meu Pai. O que se passa em redor de mim compunge-me. A política, que tive sempre por um apostolado, tornou-se negócio. E, como dizia o grande Junqueiro:

«Isto de consciência e de coração tranquilos são coisas para fazer estilo, metáforas e mais nada …»

Já é tarde para mudar."
Magalhães Lima, Episódios da minha Vida (Memórias), (volume I), Perspectivas & Realidades, Lisboa, s/d.  

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

... "a linguagem e a mentira das coisas"



«[ …] Que doces coisas são os sons e as palavras! Não serão os sons e as palavras os arcos-íris e as pontes ilusórias que estabelecem a ligação entre o que está eternamente separado?

Todas as almas têm um mundo seu; para cada uma delas, a alma de outrem é um mundo transcendente.

É entre aqueles que estão mais próximos que a ilusão faz cintilar as suas miragens mais belas; porque o abismo mais estreito é o mais difícil de transpor.

Como poderia haver para mim um não-eu? Não há mundo exterior. Não foram os nomes e os sons dados aos homens para terem prazer nas coisas? A linguagem é uma doce loucura; falando, o homem evade-se e dança para lá das coisas.

Como são doces, a linguagem e as mentiras das coisas! O nosso amor dança com os sons em arco-íris matizados.»
_____________
in Nietzsche, Assim Falava Zaratrusta, [O convalescente], Guimarães Editores, Lisboa, 2007  

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

VAMPIROS (ZECA AFONSO) 'Eles comem tudo ...'




No céu cinzento 
Sob o astro mudo 
Batendo as asas 
Pela noite calada
Vem em bandos
Com pés veludo 
Chupar o sangue 
Fresco da manada 

Se alguém se engana
Com seu ar sisudo 
E lhes franqueia 
As portas à chegada 
Eles comem tudo 
Eles comem tudo 
Eles comem tudo 
E não deixam nada 
A toda a parte 
Chegam os vampiros 
Poisam nos prédios 
Poisam nas calçadas 
Trazem no ventre 
Despojos antigos 
Mas nada os prende 
Às vidas acabadas 

São os mordomos
Do universo todo 
Senhores à força 
Mandadores sem lei 
Enchem as tulhas 
Bebem vinho novo
Dançam a ronda
No pinhal do rei

Eles comem tudo
Eles comem tudo
Eles comem tudo
E não deixam nada
No chão do medo
Tombam os vencidos
Ouvem-se os gritos
Na noite abafada
Jazem nos fossos
Vítimas dum credo
E não se esgota
O sangue da manada

Se alguém se engana
Com seu ar sisudo
E lhes franqueia 
As portas à chegada
Eles comem tudo
Eles comem tudo
Eles comem tudo
E não deixam nada

Eles comem tudo
Eles comem tudo
Eles comem tudo
E não deixam nada

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Créditos da imagem para BLOGUETRIFORMIS 

Bat. Caç.596/63. um até breve ...



quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

LER - Medidas que vêm de longe ...


IV

«Criem-se, nos mesmos logares, escolas de adultos, em que os homens de trabalho, que desejem aprender a lêr, escrever e contar, venham á noite receber licções gratuitas de qualquer pessoa zelosa do bem publico, que dessa tarefa se queira encarregar por seu turno.
Para completar esta util idéa, criem-se tambem gabinetes de leitura, em que aquelles, que souberem lêr, possam nas compridas noites do inverno dar pasto á sua curiosidade. Estas pequenas bibliotecas populares devem conter um certo numero de publicações periodicas, semanaes ou annuaaes, e outras obras de pequeno custo fornecidas pelo EStdo: tudo escriptos de util e variada licção - que fallem ao espirito, ao coração e aos olhos.»
...
NOGUEIRA, José Félix Henriques (1823 - 1858)
Estudos sobre a  a reforma em Portugal - Lisboa. Typ. Social, 1851; 2 v. pg. 173/174.
(grafo da época)

90



terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Lengalenga . (contagem pelos dedos)




Una
Duna, 
Tena, 
Catena, 
Forreca, 
Chirreca, 
Vira, 
Virão, 
Conta bem, 
Que dez são.
...
(há mais variantes).


segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

António José Forte "... escreveu pouco .."




António José Forte (1)   (1931-1988) poeta surrealista, “…escreveu pouco, talvez apenas o necessário para deixar vincada a sua presença e ter a certeza de haver «gente que nunca escreveu uma linha que fez mais pela palavra que toda uma geração de escritores»”, (2)  
“Os poetas, os reformistas, os reaccionários, os progressistas arregalarão os olhos e em seguida hão-de fechá-los de vergonha. Fechá-los como têm feito sempre, afinal, em seguida mergulharem nas profecias. Olharem para a parte inferior da própria cintura e em seguida fecharem os olhos de vergonha. Abandonarem-se desenfreadamente à carpintaria das suas tábuas de valores, brandirem-se por cima das nossas cabeças como padrões para a vida, para a arte, para o amor e em seguida fecharem os olhos de vergonha às manifestações mais cruéis da vida, da arte do amor".(3) 

___________________
(3) in Forte, António José. Corpo de Ninguém.  Hiena. Lisboa.1989...[Uma Faca nos Dentes. p. 39] 

Nota: Um bem-haja  pela colaboração recebida. 

sábado, 18 de dezembro de 2010

BOAS FESTAS 2010/2011

Não nos iludamos. Ou nos salvamos nós, ou ninguém nos salva.
...
O messianismo em Portugal fez as suas provas e faliu.

(in Manuel Laranjeira, 
O Pessimismo Nacional ou de como os portugueses procuram soluções de esperança em tempos de crise social, 
Padrões Culturais Editora, Lisboa, 2008) 


(amplia, clicando sobre a imagem)


quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

«O SENHOR ACONTECE» 18.04.1944 – 15.12.2010



Carlos Nuno de Abreu Pinto Coelho 
18.04.1944 – 15.12.2010 
“E assim, ACONTECE” 

Evoca-se o jornal cultural ‘Acontece’ (1994 – 2003) da RTP2, lamentavelmente extinto em ambiente polémico.

Entre condecorações e prémios distingue-se a atribuída pela França: Oficial da “Orde des Arts et des Lettres (2009)”.


*

"Anexo (1)
Missiva do funcionário do SBI-FCG António José Forte à respectiva direcção sobre incidentes em Parada do Bouro (27-12-1960)
Fonte: Francisco, 1966. (Nb: transcrição da publicação original no Boletim do Sindicato dos Encarregados e Ajudantes de Bibliotecas de Portugal – Fevereiro 1991.)

Ex.mos Senhores:
Um bem triste e lamentável episódio interrompeu ontem, dia 27, a marcha feliz e entusiástica que esta Biblioteca iniciou há pouco por terras do Baixo Minho. Foi o caso de um abade que se nos atravessou no caminho, não para suicidar-se. O que seria altamente honroso para ele, mas para apressar o suicídio dos seus submissos paroquianos, boa gente, diga-se de passagem, mas cegos como todos os suicidas involuntários.
«Estávamos nós estacionados em Parada de Baixo, terra célebre nestas redondezas pelas suas laranjas e outras frutas, quando o pároco da freguesia, zeloso da salvação das suas ovelhas, decidiu intervir. A intervenção foi ridícula e teatral por um lado e pelo outro infame e de franca má fé.
«Acusando-nos de estarmos a distribuir livros protestantes, ameaçou os paroquianos de excomunhão ipso facto (foram palavras textuais do padre) caso ousassem levar um único exemplar que fosse. E não contente com essa ameaça arrancou das mãos de alguns leitores as obras já requisitadas e atirou-as ao chão que, por sinal, estava um pouco enlameado. Em seguida, e para intimidar-nos, exigiu que nos identificássemos, o que recusámos gostosamente. Depois explicámos às pessoas, não ao padre, que aquela Biblioteca se tratava de uma instituição legal, e que pertencia à consciência de cada um escolher entre levar livros e devolvê-los. Graças ao Diabo houve uma minoria que se manteve firme, não abdicando da vontade própria, mas aos que estavam no que julgam ser a graça de Deus principiaram a devolver os livros, e da maneira mais correcta possível, quer atirando-os ao chão quer lançando-os para dentro do furgão. Claro que pelo padre estava a maioria das mulheres que se não poupavam a insultos e ameaças, o que, consequentemente, provocou uma atitude hostil por parte de alguns homens, os quais, homens, ocasionalmente é verdade, pois regressavam do trabalho, traziam ao ombro uma sachola de cabo bastante comprido. De modo que resolvemos retirar-nos.
A nossa próxima visita a Parada do Bouro está marcada para 27 de Janeiro [1961] e é nossa firme intenção lá voltar. Mas não podemos ir desprevenidos e por isso desejamos que nos autorizem a fazê-lo acompanhados pela Guarda Republicana, ou que nos enviem armas. Desnecessário se torna, naturalmente, sugerir que tentem proceder contra o padre (de sua graça Isac).
Por nós, participaremos hoje ou amanhã ao Presidente da Câmara de Vieira do Minho o ocorrido.
Aqui a indignação é, pode dizer-se, geral. Os correspondentes dos jornais Jornal de Notícias e Primeiro de Janeiro já enviaram notícias de protesto. Nós prosseguiremos.
Atentamente.
Vieira, 28 de Dezembro de 1960.

António José Forte"

*
“E assim, ACONTECE.
Até amanhã!” (Carlos Pinto Coelho)
___________
Créditos da imagem para http://peticao-rtp2-cinema.blogspot.com/2010/12/carlos-pinto-coelho.html


(1) in Melo, Daniel de, A Leitura Pública no Portugal Contemporâneo (1926-1987), Lisboa ICS (Imprensa de Ciências Sociais, 2004, pp.355-356.
- um agradecimento a drmpd.

sábado, 11 de dezembro de 2010

... muito provavelmente Porque era sábado (Vinicius de Moraes - o dia da criação)


Foto: Marcos Renkert


O dia da criação, Vinicius de Moraes
(…)

Há a perspectiva do domingo 
Porque hoje é sábado 
 


III 
 

Por todas essas razões deverias ter sido riscado do Livro das Origens, 
ó Sexto Dia da Criação. 
De fato, depois da Ouverture do Fiat e da divisão de luzes e trevas 
E depois, da separação das águas, e depois, da fecundação da terra 
E depois, da gênese dos peixes e das aves e dos animais da terra 
Melhor fora que o Senhor das Esferas tivesse descansado. 
Na verdade, o homem não era necessário 
Nem tu, mulher, ser vegetal, dona do abismo, que queres como 
as plantas, imovelmente e nunca saciada 
Tu que carregas no meio de ti o vórtice supremo da paixão. 
Mal procedeu o Senhor em não descansar durante os dois últimos dias 
Trinta séculos lutou a humanidade pela semana inglesa 
Descansasse o Senhor e simplesmente não existiríamos 
Seríamos talvez pólos infinitamente pequenos de partículas cósmicas 
em queda invisível na 
terra. 
Não viveríamos da degola dos animais e da asfixia dos peixes 
Não seríamos paridos em dor nem suaríamos o pão nosso de cada dia 
Não sofreríamos males de amor nem desejaríamos a mulher do próximo 
Não teríamos escola, serviço militar, casamento civil, imposto sobre a renda 
e missa de 
sétimo dia. 
Seria a indizível beleza e harmonia do plano verde das terras e das 
águas em núpcias 
A paz e o poder maior das plantas e dos astros em colóquio 
A pureza maior do instinto dos peixes, das aves e dos animais em [cópula. 
Ao revés, precisamos ser lógicos, freqüentemente dogmáticos 
Precisamos encarar o problema das colocações morais e estéticas 
Ser sociais, cultivar hábitos, rir sem vontade e até praticar amor sem vontade 
Tudo isso porque o Senhor cismou em não descansar no Sexto Dia e [sim no Sétimo 
E para não ficar com as vastas mãos abanando 
Resolveu fazer o homem à sua imagem e semelhança 
Possivelmente, isto é, muito provavelmente 
Porque era sábado.

Vinicius de Moraes, O dia da criação (excerto), Jornal de Poesia aqui

domingo, 5 de dezembro de 2010

"Os nossos dias fogem ..."


Os nossos dias fogem tão rápidos como água do rio
ou vento do deserto.
Entretanto, dois dias me deixam indiferente:
o que passou ontem e o que virá amanhã.
Omar Khayyam, (versão Fernando Couto),
 Joaquim Pessoa (organizou), Herdeiros do Vento, Antologia Apócrifa, Litexa, 1984

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

RENOIR AMAVA O HOMEM, A LUZ E A NATUREZA INFINITA(1)



Ao Piano, de Renoir (fragmento) Quadro comprado pelo Governo Francês.


«Tanto na arte como na natureza, aquilo que tomámos como inovação é, no fundo, uma continuação mais ou menos modificada do antigo», Renoir. (1)
______________
(1) in Peter H. Feist, Pierre-Auguste Renoir, (1841 - 1919) 'Um Sonho de Harmonia, Taschen Público (nº 8), 2003 

3 de Dezembro - DIA INTERNACIONAL DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA



“O Dia Internacional das Pessoas com Deficiência assinala-se hoje, quando a maioria destes cidadãos continua excluída do exercício de direitos e é discriminada no acesso em condições de igualdade ao ensino, emprego, habitação e transportes.”

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

FERNANDO PESSOA , Pois v. não vê que ...








Fernando Pessoa 
13 junho 1888 – 30 novembro 1935

(…)


Pois v. não vê que para esta gente o perceber v. precisa escrever como o Dantas, como o  Alfredo Cunha, como  ...

Pois v. não vê que para esta gente o apreciar v. precisa ou fazer conferências ou plagiar como o J. de B., asnear na capital como o Manso  que veio de Coimbra.

Pois v. não vê que para esta gente o elogiar v. tem de andar a bajulá-los na rua e nos cafés, como fazem os Dantas, os Cunhas, os Sousa Pintos?
Depois – pior ainda – v. escreve europeiamente!

 (…)

_________________________________
(…) Fernando Pessoa, Correspondência (1905 – 1922), Fragmento da carta nº 39 dirigida a Mário de Sá Carneiro´, edição Maria Parreira Serra, Assírio & Alvim, 1999.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

29.11.1807 - Corte Foge para o Brasil



1807 - 29 NOVEMBRO
“Uma deputação” de várias personalidades “dirige-se a Sacavém para pedir protecção de Junot” (1)

 A corte foge para o Brasil e Portugal passa a colónia.
 _________
(1) Adapt. de “História de Portugal em datas”,(Augusto José Monteiro, 1620 – 1807) obra colectiva coordenada por António Simões Rodrigues, Temas e Debates, Actividades Editoriais, L.da, 4ª edição. 2007.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

JOHN KENNEDY, 29 Maio'1917 - 22 Novembro'1963


John Fitzgerald Kennedy 
 Brookline, Massachusetts – Dallas
29 Maio’1917 – 22 Novembro,1963 (assassinado) 
 35º Presidente dos Estados Unidos da América do Norte 
(20 Janeiro’ 1961 a 22 Novembro’1963) 


 “Nunca devemos esquecer que arte não é uma forma de propaganda, é uma forma de verdade.”

domingo, 21 de novembro de 2010

COGUMELO DE ESTEVAIS [MONCORVO]



A roda do vento 'ofereceu' dois cogumelos modelados no granito.
Dois?!
É uma fartura.
Basta um.
Por quanto tempo?

sábado, 20 de novembro de 2010

DECLARAÇÃO DOS DIREITOS DA CRIANÇA - 20.11.1959


20.Novembro’1959 – Assembleia Geral das Nações Unidas aprova a Declaração dos Direitos da Criança aqui 

Princípio 10º – A criança deverá ser protegida contra qualquer tipo de preconceito, seja de raça, religião ou posição social. Toda criança deverá crescer num ambiente de compreensão, tolerância e amizade, de paz e de fraternidade universal





O PORTUGAL DO FUTURO (*)
O portugal do futuro é um país 
aonde o puro pássaro é possível 
e sobre o leito negro do asfalto da estrada 
as profundas crianças desenharão a giz 
esse peixe da infância que vem na enxurrada 
e me parece que se chama sável 
Mas desenhem elas o que desenharem
é essa forma do meu país
e chamem elas o que lhe chamarem 
portugal será e serei feliz 


(…)
____________________ 
(*) Com a devida vénia, «Carreiros de Bustos» edita excerto do poema de Ruy Belo, “O Portugal Futuro”  publicado em País Possível – obra poética de Ruy Belo, editorial presença, 2ª edição, 1998

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

GUIMARÃES ROSA, uma evocação



João Guimarães Rosa (1908 – 1967). 
Brasileiro. 
Médico. Diplomata. Escritor.


   FAMIGERADO (*) 
(um excerto do conto)


 (...) 


— "Pois... e o que é que é, em fala de pobre, linguagem de em dia-de-semana?" 

— Famigerado? Bem. É: "importante", que merece louvor, respeito... 

— "Vosmecê agarante, pra a paz das mães, mão na Escritura?" 


Se certo! Era para se empenhar a barba. Do que o diabo, então eu sincero disse: 
— Olhe: eu, como o sr. me vê, com vantagens, hum, o que eu queria uma hora destas era ser famigerado — bem famigerado, o mais que pudesse!... 

— "Ah, bem!..." — soltou, exultante

(…)
________________
(*) recolhido com a devida vénia de  releituras – menu do autor aqui
ilustração do postal  copiada de aqui

'HISTÓRIA DE UMA BIBLIOTECA VIVA'

HISTÓRIA DE UMA BIBLIOTECA VIVA 

Era uma vez, em Roma, um comerciante rico que se chamava Itelus. Contam-se maravilhas das suas fabulosas riquezas. O seu palácio era tão vasto que nele teriam cabido todos os habitantes da cidade. O seu palácio era tão vasto que nele teriam cabido todos os habitantes da cidade. Reunia todos os dias, à mesa trezentas pessoas escolhidas entre os cidadão mais ilustres e mais cultos. 

Não havia só uma mesa em casa de Itelus; havia trinta, todas cobertas de magníficas toalhas bordadas a ouro. 

Itelus dava aos seus convidados os mais finos cozinhados, mas, nesse tempo, não se ofereciam aos convidados só pratos escolhidos: era preciso dar-lhes também os prazeres de uma conversa espirituosa.

“... A ITELUS NADA FALTAVA, EXCEPTO A INSTRUÇÃO” 

Ora, a Itelus nada faltava, excepto a instrução. Mal sabia ler. As pessoas que aceitavam os seus convites com prazer riam dele à socapa. 

Era-lhe impossível sustentar uma conversa à mesa, e se, por acaso, conseguisse que lhe dessem atenção, reparava que os convidados reprimiam a custo os seus sorrisos. 

Não podia suportar semelhante coisa. Mas era demasiado preguiçoso para estar muito tempo a ler um livro e não estava habituado a maçar-se. Itelus pensou muito tempo na maneira de remediar o caso e, finalmente, achou o que lhe era preciso. 

GRANDE ALEGRIA PARA ITELUS POSSUIR UMA BIBLIOTECA VIVA

 Ordenou ao mordomo que escolhesse, entre os seus numerosos escravos, duzentos dos mais inteligentes e mais instruídos. Cada um deles devia aprender um certo livro de cor. Por exemplo, a Ilíada, a Odisseia, etc. 

Foi um trabalhão para o mordomo, que teve muitas vezes de castigar os escravos antes de ter podido satisfazer os desejos do patrão. Mas, quando chegou a bom resultado, foi uma grande alegria para Itelus possuir uma biblioteca viva. 

ITELUS ESTAVA ENCANTADO 

À mesa, quando chegava a hora da conversa, bastava fazer sinal ao mordomo e da fila silenciosa de escravos, de pé, encostada à parede, destacava-se um homem que recitava a passagem adequada. Os escravos tinham o nome dos livros que sabiam de cor, um chamava-se Odisseia, outro Ilíada, outro ainda Eneida, etc., etc. …

 Itelus estava encantado. Toda a gente em Roma falava da sua biblioteca viva; nunca se tinha visto semelhante coisa. Mas isto não podia durar, e num belo dia um incidente fez troçar do milionário ignorante a cidade em peso. 

Depois do jantar, a conversa recaiu, como sempre, sobre toda a espécie de assuntos de literatura. Falava-se da maneira como os homens da antiguidade organizavam as festas.

 – Conheço uma passagem célebre da Ilíada sobre esse assunto – disse Itelus fazendo sinal ao mordomo. 

 MAS … 

Mas este caiu de joelhos e murmurou com voz embargada de medo:
 – Perdoai-me, senhor, o Ilíada hoje está com dores de estômago. 
_____________________________
in Iline, M., O Homem e o Livro, Lisboa, Cosmos, 1947. 
Nota 1) os subtítulos foram introduzidos no texto original. 
Nota 2) Texto publicado com a colaboração voluntariosa de N.N.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

QUADRA POPULAR & MANUEL ALVES - POETA CAVADOR




MANUEL ALVES - O POETA CAVADOR

Que bonitas melancias
Tem aquela rica dama!
Por tanto bem que lhes quer
Deita-as consigo na cama.

É uma classe de semente
Que a mãe dela herdou da avó;
Guarda-as para ela só,
Não quer dar delas à gente.
São meias roxas na frente,
Na casca são luzidias;
Cobre-as todos os dias
Para o sol as não crestar;
Diz, quem para elas olhar:
«Que bonitas melancias!»

Quando passo à sua porta
Digo o que à mente me vem:
«Por alma da tua mãe,
Deixa-me ir à tua horta!»
«E esta fruta não se corta,
- Ela em alta voz me clama:
A minha fruta tem fama,
Hei-de estimá-la por isso».
Melancias que eu cobiço
Tem aquela rica dama!
(…)

O BURRIQUEIRO! aquI  SEGUNDA-FEIRA, 16 DE FEVEREIRO DE 2009,

MANUEL ALVES - O POETA CAVADOR


Monumento Manuel Alves(*)
(1845-1901)

Manuel Alves nasceu e morreu em Vale do Boi, freguesia da Moita. Repentista e analfabeto, ficou conhecido por “Poeta Cavador”, cognome que lhe foi atribuído por Tomás da Fonseca, também responsável pela compilação dos seus versos – “Versos dum Cavador”.

No lugar da Moita, na década de 50 do séc. XX. Foi erigido um Busto, em bronze, em homenagem a Manuel Alves, O Poeta Cavador
(*) créditos para a Câmara Municipal de Anadia, aqui 
*******************
_____________________________
Do cancioneiro do Distrito [de Aveiro]...
(**) Ó pedras desta calçada,
levantai-vos e dizei
quem vos passeia de noite,
que eu de dia bem sei!...
 Oliveira do Bairro
_____________________
(**) retirado da revista ' Aveiro e o seu Distrito', nº 20. 1975. Cancioneiro do Distrito, compilação de M. Berta.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

D. Manuel II – 121º Aniversário Natalício


15 Novembro 1889 – 2 de Julho 1932. 
Em consequência do regicídio de 1 de Fevereiro 1908, D. Manuel reinou desde 6 de Maio 1908 a 5 de Outubro 1910
De nome completo: 
Manuel Maria Filipe Carlos Amélio Luís Miguel Rafael Gabriel Gonzaga Xavier Francisco de Assis Eugénio de Bragança Orleães Sabóia e Saxe-Coburgo-Gotha. 

D. Manuel II coloca-se ao lado do regime republicano após a entrada de Portugal na Guerra, faz um apelo aos monárquicos para apoiarem o novo regime durante o conflito, participa em acções diversas de apoio às tropas aliadas, visita hospitais, ... 

 «O seu esforço nem sempre foi reconhecido. Anos mais tarde, em entrevista a António Ferro lamentou-se, "A sala de operações do Hospital Português, em Paris, durante a guerra, foi montada por mim. Sabe o que puseram na placa da fundação? ‘De um português de Londres'» … 
___________

Com apoio de
 http://pt.wikipedia.org/wiki/Manuel_II_de_Portugal

COVAS LIMA?! ... PRESENTE!...




Amigo. Alentejano por devoção (nasceu em Lisboa). Sábio. Médico prestigiado. Fraterno. Solidário (no seguimento da linha do seu Pai).
Um dos últimos gestos está na oferta das receitas da venda do seu livro, recentemente publicado,  “Torre de (Ho)menagem - Crónicas de um Homem do Alentejo”, dedicada aos  Bombeiros Voluntários de Beja.

Covas Lima, vais continuar a estar presente nos encontros da antiga CCS n.º 596/1963.
E as tuas memórias vão  desfilar no Jardim do Bacalhau.

Até breve.


sábado, 13 de novembro de 2010

"1964 - Paulo VI oferece uma tiara aos pobres" (*)

"13 de Novembro de 1964, durante uma cerimónia solene na basílica de São Pedro, Paulo VI, num gesto inesperado, oferece a sua tiara aos pobres, como sinal da solicitude da igreja para com os desfavorecidos. 


Fonte: Diário de Lisboa n.º 15056, de 13-11-1964, pp. 1 e 23 


A tiara ofertada pelo Sumo Pontífice vale de 800 a 2 000 contos.

Fonte: Diário de Lisboa n.º 15057, de 14-11-1964, p. 17 


Com este gesto, Paulo VI pretendia, certamente, responder às críticas que alguns sectores da opinião pública teciam contra a ostentação da Igreja Católica face à pobreza existente no Mundo."

 (*) Copiado de O LEME aqui

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

PAXÁ MUSTAFA KEMAL ATATURK, UM GRANDE LÍDER MUNDIAL

(atrasado na edição)


Mustafa Kemal Atatürk 
 1881 – 1938
 Fundador da República da Turquia.


"Há dois Kemals Mustafa. 
Uma carne e osso Mustafa Kemal, 
que agora está diante de você 
e que vai passar. 

O outro é você, todos vocês 
aqui que vai para os cantos da nossa terra 
para espalhar os ideais que devem ser defendidos 
com a vossa vida se for necessário.
 
Eu defendo os sonhos da nação, 
e trabalho da minha vida é torná-los realidade. " aqui



 Militar de prestígio, combatente na primeira guerra mundial, respeitado pelos aliados, adepto do iluminismo, político revolucionário desde novo, liderou a Guerra da Independência Turca, aboliu o regime da longa monarquia otomana, impôs amplas reformas radicais de índole política, como a separação dos poderes legislativo e executivo, económicas e sociais e transformou o país em estado laico. Acreditava na soberania popular como base na formação de governos representativos da nação. “Paxá” Mustafa Kemal Atatürk, Presidente da República Turca desde 29 de Outubro de 1923 até à sua morte, ocorrida em 10 de Novembro’1938, continua a ser considerado um dos grandes dirigentes do mundo. 
… 
Actualmente a Turquia que já tem um número apreciável de emigrantes na Europa, está em negociações para entrar no melting pot europeu.
 Seja bem-vinda.
...
imagem retirada de aqui