quarta-feira, 31 de agosto de 2011

"- Nunca ouviste falar em Eduardo Mondlane?"



Eduardo Mondlane
(Manjacaze, Gaza – Dar es Salaam
20.06.1920 – 3.02.1969

O soldado colonial Gabriel, que fora capturado por forças da FRELIMO em sequência de uma emboscada montada nos arredores de Nantulo, estaria condenado a ser supliciado por enterramento  numa cova tapada até ao pescoço, se o acaso não trouxesse à sua presença o camarada tenente Alfredo Malanga que identificara o seu salvador pela orelha roída, o que valeria, em retribuição,  a sua salvação, mas …

…  Gabriel  Craveiro ficava obrigado a frequentar um curso de reciclagem ideológica em Nachingwara (Tanzânia) onde  Nelson Leal  faz situar o episódio:    
(…)
- Nunca ouviste falar em Eduardo Mondlane?
- Só agora, nestas aulas. Mataram-no, não foi?
- Foram os colonialistas. Era da minha aldeia. Era filho de Nwadjhane, família de um velho rei do Bilene.
Naquelas longas noite de luar imenso, ao redor  da fogueira, o Gabriel ia conhecendo a História não contada de um outro Moçambique, um Moçambique de lendas, de heróis e de tribos irredutíveis. Soube que Mondlane era Chivambo, filho de Magulane da linhagem dos Nwanati, que a avó foi irmã de um célebre Xipenanhane Mondlane, herói das épicas campanhas de Mandlakazi. “A sua coragem era a de um leão e o seu espírito o de um falcão. Ele vive hoje, lá nos céus, nas asas de uma águia”, afirmava convicto. Apascentou gado enquanto menino, estudou na escola de Maússe e jogou à “homana” nos intervalos, caçou passarinhos e lebres, montou touros e roubou massarocas como qualquer outro menino da aldeia. Soube também que um padre da missão, o padre Perrier, levou Eduardo Mondlane de Manjacaze para um hospital suíço, onde estudou e entrou na Mesa da ONU, onde desempenhou funções de subsecretário. Foi casado com uma branca, Janet  e teve três filhos. Um político e um revolucionário que encantou o mundo.
(…)

in Nelson Leal, Filhos do Nada. Águeda 2006 (p.108)
Fonte da imagem (adaptada) Digital no Indico aqui

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Convenção de Sintra humilha Portugal. Mário Soares Premiado. Timor-Leste sufraga independência


30 Agosto
1808 – Convenção de Sintra assinala o fim da 1ª invasão napoleónica. Junot, derrotado nas batalhas de Roliça e do Vimeiro, propôs aos ingleses um armistício para retirar o seu exército.
O excerto sobre este acontecimento de Abílio Pires Lousada, então Ten.-Coronel, retrata a humilhação que os negociadores sujeitaram Portugal:

O acordo foi celebrado em Sintra, na Convenção assinada a 30 de Agosto. Um acordo concretizado entre franceses e ingleses, que deixaram à margem do processo negocial qualquer representação portuguesa, que suscitou viva contestação86. Efectivamente, para os portugueses a Convenção foi um logro e um abuso, uma “consagração diplomática da política de rapina”87, aproveitando os franceses para retirar calmamente por mar, sob escolta naval britânica, com os despojos surripiados durante a ocupação. (1)

(fim de citação)
A Convenção de Sintra foi de tal maneira gravosa para Portugal que está  bem retratada em banda desenhada humorística. aqui 



fonte: Curiosidades da História, Partida da Família Real para o Brasil  aqui
Também é de ter em conta que o Povo fora abandonado pela fuga da corte para o Brasil.

Dois séculos depois, Portugal, ainda que ande muito bem vestido, anda por veredas de indigência em busca do metal cantante para o expedir através do pipeline da usura.

Nota: Aqui ao lado, lembra-se que Junot General era também  Duque de Abrantes. E um duque da coroa portuguesa não  podia partir com as mãos a abanar.
   
 Outras efemérides a merecerem destaque: 

Em 1995 – O Prémio «Príncipe das Astúrias» da categoria de Cooperação Internacional é atribuído a Mário Soares.

Em 1999 – Timor-Leste referenda a sua independência.
__
­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­
(1)   (1) Tenente-Coronel Abílio Pires Lousada, A Invasão de Junot e o Levantamento em Armas dos Camponeses de Portugal. A Especificidade Transmontana. aqui  
ui

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Dr. CARLOS PEREIRA AJUDA CARENCIADOS,.EM 1933


(…)
Não
não  me procureis
nos grandes salões
…………………….onde não estou
……………………………………….onde não posso estar
(…)

Marcelino dos Santos (Moçambique), 
Onde estou, 
em 50 Poetas Africanos, 
org. de Manuel Ferreira, 
Plátano Editora, 2ª edição.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Adélio Reis Pedreiras - Memória


Adélio Reis Pedreiras

4.09.1924 - 3.08.2011

"Bustos perdeu mais um homem bom, cidadão exemplar"


Cântico Negro de José Régio  (interpretado por João Villaret)

aqui

Cântico Negro

"Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre a minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Como, pois sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...
Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
- Sei que não vou por aí!
José Régio

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

4 Julho 1776 – Declaração de Independência Americana




Excerto
(...)

Nós, por conseguinte, representantes dos ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA, reunidos em CONGRESSO GERAL, apelando para o Juiz Supremo do mundo pela rectidão das nossas intenções, em nome e por autoridade do bom povo destas colónias, publicamos e declaramos solenemente: que estas colónias unidas são e de direito têm de ser ESTADOS LIVRES E INDEPENDENTES; que estão desobrigados de qualquer vassalagem para com a Coroa Britânica, e que todo vínculo político entre elas e a Grã-Bretanha está e deve ficar totalmente dissolvido; e que, como ESTADOS LIVRES E INDEPENDENTES, têm inteiro poder para declarar a guerra, concluir a paz, contrair alianças, estabelecer comércio e praticar todos os actos e acções a que têm direito os estados independentes. E em apoio desta declaração, plenos de firme confiança na protecção da Divina Providência, empenhamos mutuamente nossas vidas, nossas fortunas e nossa sagrada honra.

John Hancock.
[assinaram a declaração]

GEORGIAButton Gwinnett, Lyman Hall, Geo. Walton.
CAROLINA DO NORTEWm. Hooper, Joseph Hewes, John Penn
CAROLINA DO SULEdward Rutledge, Thos Heyward, junr., Thomas Lynch, junr., Arthur Middleton
MARYLANDSamuel Chase, Wm. Paca, Thos. Stone, Charles Carroll, of Carrollton
VIRGINIAGeorge Wythe, Richard Henry Lee, Ths. Jefferson, Benja. Harrison, Thos. Nelson, jr., Francis Lightfoot Lee, Carter Braxton
PENNSYLVANIARobt. Morris, Benjamin Rush, Benja. Franklin, John Morton, Geo. Clymer, Jas. Smith, Geo. Taylor, James Wilson, Geo. Ross
DELAWARECaesar Rodney, Geo. Read
NOVA IORQUEWm. Floyd, Phil. Livingston, Frank Lewis, Lewis Morris
NOVA JERSEYRichd. Stockton, Jno. Witherspoon, Fras. Hopkinson, John Hart, Abra. Clark
NOVO HAMPSHIREJosiah Bartlett, Wm. Whipple, Matthew Thornton
BAÍA DE MASSACHUSETTSSaml. Adams, John Adams, Robt. Treat Paine, Elbridge Gerry
RHODE-ISLAND E PROVIDENCEC. Step. Hopkins, William Ellery
CONNECTICUTRoger Sherman, Saml. Huntington, Wm. Williams, Oliver Wolcott
_________________
fonte:

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

I GUERRA MUNDIAL DECLARADA. MASSACRE NA GUINÉ. PORTUGAL RECUSADO. SALAZAR CAI.


3 de Agosto

1914 –  A França, Bélgica e Grã-Bretanha declaram guerra à Alemanha, iniciando a I Guerra Mundial. O motivo foi o assassinato do príncipe do Império Austro-Húngaro, Francisco Ferdinando, em 28 de Junho. Até 03 de Agosto, todas as potências entram na guerra menos a Itália.


1946 – Portugal apresenta o pedido de adesão à ONU, candidatura que é recusada devido à natureza ditatorial do regime.

1959 –  Massacre do Pidjiguiti, na Guiné, sob administração portuguesa. As autoridades coloniais ordenam a carga policial sobre os trabalhadores do porto de Bissau, em greve. Morrem 50 pessoas.

O Massacre de Pindjiguiti na Guiné (Agosto de 1959) foi um acto de barbárie colonial…” aqui 

1968 - O  ditador Oliveira Salazar cai de uma cadeira, no Forte de Santo António do Estoril. O agravamento do estado de saúde acusará a existência de um hematoma cerebral. É substituído, a 27 de Setembro, por Marcelo Caetano (O Leme).
...

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

ZECA AFONSO - 'Eles comem tudo'



Zeca Afonso
Aveiro – Setúbal
2 Agosto1929 – 23 Fevereiro1987

...
Uma reposição com a ajuda de Belino Costa
(...)
Entretanto - como é conhecido - o cantor criou e interpretou novas formas musicais, que não cabe aqui analisar.
Mas, em 1980 - isto é, 27 anos depois de ter gravado os seus primeiros fados - José Afonso "reconcilia-se" com a tradição coimbrã para deixar o LP "Fados de Coimbra e outras canções", o último dos muitos discos que gravou para a editora Arnaldo Trindade, Lda. - Discos Orfeu.

Numa entrevista a Belino Costa, publicada na Revista Sete, de 25/11/81, José Afonso refere-se a esta "reconciliação":
"O fado de Coimbra não é de direita nem de esquerda: é um depósito de carácter cultural. (...) 
...
Obs.
Hoje, Lisboa promove o «seu» fado a Património Mundial... enquanto que Coimbra encolheu os ombros.
«»


[De] toda a parte chegam os
VAMPIROS



No céu cinzento sob o astro mudo
Batendo as asas pela noite calada

Vêm em bandos com pés de veludo
Chupar o sangue fresco da manada
Se alguém se engana com seu ar sisudo
E lhes franqueia as portas à chegada
Eles comem tudo eles comem tudo
Eles comem tudo e não deixam nada [bis]

A toda a parte chegam os vampiros
Poisam nos prédios poisam nas calçadas
Trazem no ventre despojos antigos
Mas nada os prende às vidas acabadas

São os mordomos do universo todo
Senhores à força mandadores sem lei
Enchem as tulhas bebem vinho novo
Dançam a ronda no pinhal do rei

Eles comem tudo eles comem tudo
Eles comem tudo e não deixam nada

No chão do medo tombam os vencidos
Ouvem-se os gritos na noite abafada
Jazem nos fossos vítimas dum credo
E não se esgota o sangue da manada

Se alguém se engana com seu ar sisudo
E lhe franqueia as portas à chegada
Eles comem tudo eles comem tudo
Eles comem tudo e não deixam nada

Eles comem tudo eles comem tudo
Eles comem tudo e não deixam nada
fonte: aqui