fonte: aqui
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Zeca Afonso esteve na cidade da Beira (Moçambique), um núcleo de “antigos
estudantes” de Coimbra organizaram um programa para celebrar «a Tomada da
Bastilha» que incluía “nada menos do que uma «serenata monumental, à semelhança
do espectáculo que ocorre todos os anos no Largo da Sé Velha em Coimbra” (1); a
presentação da peça de teatro de Bertold Brecht “A excepção e a regra”, e ainda incluía um “um tipo, que
por coincidência também era o censor da Beira, fazia uma aula com uns doutores
vestidos de “baby-dol” a apanhar violetas” (2).
«Veio
o dia em que, encostada a uma das faces da praça, apareceu a réplica em madeira
do pórtico fronteiro da Sé Velha. Obra asseada.(…)» (1) … e «enquanto isto, as
provas teatrais enviadas à censura oficial regressaram tão retalhadas que não
havia volta a dar-lhes»(1) …
O censor foi ainda mais longe, à margem da folha desvirtuou
algumas passagens da peça, de tal modo que ironicamente João Afonso dos Santos considera
que “a obra do Brecht”, não era de Brecht mas de uma parceria Brecht/Carvalheira
(suposto nome do censor e dramaturgo).
Entretanto,
o grupo de teatro recusa-se a representar a peça desvirtuada pela censura e, Zeca
Afonso, aumentando a parada, joga forte: sem Brecht não há fados!
Assim, o censor não veria no palco a representação das suas “violetas”; a serenata
monumental ficava-se pelo cenário da réplica da Sé Velha, e o cancelamento
do espetáculo rebentaria como uma bomba na propaganda da oposição.
O «carcereiro
da palavra» teve de ceder…
E a
cidade da Beira entrou no Guiness. Foi a primeira vez que se apresentou uma
peça de Bertold Brecht em todo o império português.
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Revisitando Moçambique:
Por este tempo, no quartel de Chimoio (Vila Pery) havia um gira-discos na
Sala de Oficiais onde os Vampiros e o Menino do Bairro Negro, de Zeca
Afonso, não cansavam de serem ouvidos. Foi das boas prendas de Natal oferecidas
pela SHER (Sociedade Hidroelétrica do Revué).Zeca Afonso - Menino do Bairro Negro
...
(a) Zeca Afonso musicou esta peça, com várias canções.
(1)
João Afonso dos Santos, José Afonso – Um
Olhar Fraterno, Caminho, 2002.
(2)
José
Afonso, “ALGUMA COISA DO QUESOU E FUI, FOI EM VIAGEM”, em José Afonso: Geografias de uma vida – AJA
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