terça-feira, 20 de novembro de 2012

ZECA AFONSO - «Sem Brecht não há fados» - AJA PRATA



fonte: aqui  
uando Zeca Afonso esteve na cidade da Beira (Moçambique), um núcleo de “antigos estudantes” de Coimbra organizaram um programa para celebrar «a Tomada da Bastilha» que incluía “nada menos do que uma «serenata monumental, à semelhança do espectáculo que ocorre todos os anos no Largo da Sé Velha em Coimbra” (1); a presentação da peça de teatro de Bertold Brecht  “A excepção e a regra”, e ainda incluía um “um tipo, que por coincidência também era o censor da Beira, fazia uma aula com uns doutores vestidos de “baby-dol” a apanhar violetas” (2).

«Veio o dia em que, encostada a uma das faces da praça, apareceu a réplica em madeira do pórtico fronteiro da Sé Velha. Obra asseada.(…)» (1) … e «enquanto isto, as provas teatrais enviadas à censura oficial regressaram tão retalhadas que não havia volta a dar-lhes»(1) … 
O censor foi ainda mais longe, à margem da folha desvirtuou algumas passagens da peça, de tal modo que ironicamente João Afonso dos Santos considera que “a obra do Brecht”, não era de Brecht mas de uma parceria Brecht/Carvalheira (suposto nome do  censor e dramaturgo).
Entretanto, o grupo de teatro recusa-se a representar a peça desvirtuada pela censura e, Zeca Afonso, aumentando a parada, joga forte: sem Brecht não há fados!
Assim, o censor não veria no palco a representação das suas “violetas”; a serenata monumental ficava-se pelo cenário da réplica da Sé Velha, e o cancelamento do espetáculo rebentaria como uma bomba na propaganda da oposição.
O «carcereiro da palavra» teve de ceder…
E a cidade da Beira entrou no Guiness. Foi a primeira vez que se apresentou uma peça de Bertold Brecht em todo o império português.
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Revisitando Moçambique:
Por este tempo, no quartel de Chimoio (Vila Pery) havia um gira-discos na Sala de Oficiais onde os Vampiros e o Menino do Bairro Negro, de Zeca Afonso, não cansavam de serem ouvidos. Foi das boas prendas de Natal oferecidas pela SHER (Sociedade Hidroelétrica do Revué).

Zeca Afonso - Menino do Bairro Negro

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(a) Zeca Afonso musicou esta peça, com várias canções.

(1)      João Afonso dos Santos, José Afonso – Um Olhar Fraterno, Caminho, 2002.


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